Nós do Coletivo Escola Família
Amazonas – CEFA, uma organização constituída por famílias e
educadoras/educadores, vimos desde o ano
de 2015 nos organizando, discutindo e atuando em defesa da Educação Pública em
Manaus. O princípio que, desde a nossa origem, permeia o nosso ativismo e que
confere valor à nossa identidade coletiva é o da DEMOCRACIA e, a partir dele,
temos buscado realizar interlocuções com as escolas públicas por entendermos
que o direito participativo dos vários sujeitos que compõem a complexa rede
educativa nos espaços escolares é algo justo e digno de ser experimentado desde
a infância e confere à escola um papel importantíssimo para a promoção da convivência
democrática, para o pluralismo de ideias, para a compreensão da igualdade e da
diferença e, sobretudo, lugar onde se vivencia o respeito, a dignidade humana e
a inconformidade com injustiças de toda natureza. Apostamos que a escola seja
este espaço complexo e rico de abertura de possibilidades, mas também de
contradições, mas ainda um espaço onde se possa questionar fatalismos, onde as
crianças se tornam presença com todo o seu potencial de vida, onde as
trabalhadoras e trabalhadores em educação se sintam e, efetivamente, sejam
valorizados e respeitados; onde os conhecimentos populares sejam credibilizados
e assumidos também como parte da prática educativa. No início da nossa atuação,
nos encontramos com uma concepção de educação integral que é capaz de articular
tempos e espaços em que a formação humana seja considerada em suas múltiplas
dimensões, apostando na escola como produtora de conhecimento e de
reconhecimento da educação como direito humano e que, portanto, não se
restringe e jamais se subjugará a qualquer receituário conservador, porque
sabemos que a escola é espaço de criação. Porém, como estamos vivendo um
momento de vertiginoso retrocesso no campo social, nos deparamos com a “escola
do mundo ao avesso”, denunciada com ironia e sagacidade pelo escritor Eduardo
Galeano. Todavia, ele nos ensina a enxergar as escolas que resistem e se recriam
como contraescolas, uma vez que:
O mundo ao
avesso nos ensina a padecer a realidade ao invés de transformá-la, a esquecer o
passado ao invés de escutá-lo e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo:
assim pratica o crime, assim o recomenda. Em sua escola, escola do crime, são
obrigatórias as aulas de impotência, amnésia e resignação. Mas está visto que
não há desgraça sem graça, nem cara que não tenha a sua coroa, nem desalento
que não busque seu alento. Nem tampouco escola que não encontre sua
contraescola.[i]
Buscar as contraescolas
que subsistem em nossas escolas, porque ainda resta o sonho de imaginar o
futuro que queremos, é a tarefa do agora se não quisermos sucumbir ao
autoritarismo, à indigência política e humana e ao esquecimento. Por isso, apostamos
e continuaremos a apostar na DEMOCRACIA e na EDUCAÇÃO PÚBLICA, GRATUITA, LAICA
e de QUALIDADE SOCIAL.
Manaus, 19 de outubro
de 2018.
[i] Eduardo Galeano. De pernas para o ar. A escola do
mundo ao avesso. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 8.