sexta-feira, 19 de outubro de 2018

NOTA DO COLETIVO ESCOLA FAMÍLIA AMAZONAS EM DEFESA DA DEMOCRACIA E DA EDUCAÇÃO PÚBLICA


Nós do Coletivo Escola Família Amazonas – CEFA, uma organização constituída por famílias e educadoras/educadores,  vimos desde o ano de 2015 nos organizando, discutindo e atuando em defesa da Educação Pública em Manaus. O princípio que, desde a nossa origem, permeia o nosso ativismo e que confere valor à nossa identidade coletiva é o da DEMOCRACIA e, a partir dele, temos buscado realizar interlocuções com as escolas públicas por entendermos que o direito participativo dos vários sujeitos que compõem a complexa rede educativa nos espaços escolares é algo justo e digno de ser experimentado desde a infância e confere à escola um papel importantíssimo para a promoção da convivência democrática, para o pluralismo de ideias, para a compreensão da igualdade e da diferença e, sobretudo, lugar onde se vivencia o respeito, a dignidade humana e a inconformidade com injustiças de toda natureza. Apostamos que a escola seja este espaço complexo e rico de abertura de possibilidades, mas também de contradições, mas ainda um espaço onde se possa questionar fatalismos, onde as crianças se tornam presença com todo o seu potencial de vida, onde as trabalhadoras e trabalhadores em educação se sintam e, efetivamente, sejam valorizados e respeitados; onde os conhecimentos populares sejam credibilizados e assumidos também como parte da prática educativa. No início da nossa atuação, nos encontramos com uma concepção de educação integral que é capaz de articular tempos e espaços em que a formação humana seja considerada em suas múltiplas dimensões, apostando na escola como produtora de conhecimento e de reconhecimento da educação como direito humano e que, portanto, não se restringe e jamais se subjugará a qualquer receituário conservador, porque sabemos que a escola é espaço de criação. Porém, como estamos vivendo um momento de vertiginoso retrocesso no campo social, nos deparamos com a “escola do mundo ao avesso”, denunciada com ironia e sagacidade pelo escritor Eduardo Galeano. Todavia, ele nos ensina a enxergar as escolas que resistem e se recriam como contraescolas, uma vez que:

O mundo ao avesso nos ensina a padecer a realidade ao invés de transformá-la, a esquecer o passado ao invés de escutá-lo e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo: assim pratica o crime, assim o recomenda. Em sua escola, escola do crime, são obrigatórias as aulas de impotência, amnésia e resignação. Mas está visto que não há desgraça sem graça, nem cara que não tenha a sua coroa, nem desalento que não busque seu alento. Nem tampouco escola que não encontre sua contraescola.[i]

Buscar as contraescolas que subsistem em nossas escolas, porque ainda resta o sonho de imaginar o futuro que queremos, é a tarefa do agora se não quisermos sucumbir ao autoritarismo, à indigência política e humana e ao esquecimento. Por isso, apostamos e continuaremos a apostar na DEMOCRACIA e na EDUCAÇÃO PÚBLICA, GRATUITA, LAICA e de QUALIDADE SOCIAL.

Manaus, 19 de outubro de 2018.


[i] Eduardo Galeano. De pernas para o ar. A escola do mundo ao avesso. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 8.