terça-feira, 30 de maio de 2017

CEFA no Kuska Risunchis


Visita à escola democrática de Huamachuco

De 16 a 20 de maio estive em Huamachuco (Peru) para o Encontro de Educação Democrática 'Kuska Risunchis'.

Vista a partir da escola em direção às minas ao fundo
Kuska Risunchis significa "Vamos juntos" e é um evento independente, sem uma instituição organizadora, que está em sua sexta versão. Todos aconteceram no Peru e, este ano, em Humachuco, com organização da Escuela Democratica de Humachuco. O evento foi protagonizado pelas crianças da escola, que faziam os momentos de abertura, com músicas, danças e brincadeiras. Eram também as crianças que nos davam informações sobre as diferentes salas, a programação, etc.

Uma das exposições que eu participei foi sobre a escola, apresentada por duas meninas, uma de 13 e outra de 9 anos que, de maneira brilhante, como crianças e não mini-adultas, apresentaram a proposta da escola. Também fiz uma visita a escola (que não estava funcionando nesta semana por conta do evento) com o Valério, idealizador do projeto. A escola é linda, de todas escolas democráticas que já visitei (em São Paulo e Rio de Janeiro) essa, sem dúvida, foi a mais especial para mim. Além das metodologias inovadoras e democráticas, do espaço incrível e simples, eles atendem crianças muito carentes, filhos de mineradores, sem custo nenhum. Humachuco tem esta contradição de ser por um lado um lugar com uma paisagem exuberante com muito potencial turístico e, de outro, a pressão das mineradoras, que estão detonando todo o sistema de coleta de água da cidade, destruindo as montanhas (super visível a olho nu) e com um regime de trabalho semi-escravo...

Apresentação cultural

Palestra sobre o CEFA
O evento reuniu pessoas do mundo inteiro, totalizando mais ou menos 100 participantes, dentre eles familiares da escola de Humachuco. Nas apresentações teve de tudo. Escolas montessorianas, homeschooling, escolas democráticas... Todos ali, acreditando em uma educação emancipadora, libertadora e que nos ajude a transformar a realidade, em especial da América Latina. Táticas diferentes. Estratégias diferentes. Mas há sonhos em comum.

Oficina sobre o Amã
Conheci pessoas, projetos, problemáticas, ideais, de diferentes lugares e, muita vontade de todas e todos envolvidos de se comunicar. Senti-me acolhida e cheia de esperança.

Neste contexto, tive duas apresentações. Uma sobre o CEFA e uma oficina sobre o Amã, nosso curso de desformação docente junto com o pessoal do Projeto Construindo Saber (Niterói-RJ) que está ocorrendo em Niterói e no segundo semestre faremos em Manaus.

Tivemos a participação nessas rodas de conversa pessoas do Peru, Chile, Brasil, Espanha, Suiça, França, Itália, Bélgica e Portugal. Acho que a apresentação do CEFA gerou muita reflexão. Foi um dos únicos projetos apresentado que se dá na esfera pública, nesta aposta pela escola pública. Gerou muito debate como "nas escola públicas estamos presos ao sistema", "isso é impossível fazer nas escolas públicas do Peru", etc, etc... Fez eu pensar como o Brasil, apesar dos inúmeros absurdos que vivemos, está "avançado" ao termos escolas públicas como Amorim Lima, Campos Salles, dentre várias outras que não tem tanto destaque como as próprias EMEF Professor Waldir Garcia, EMEF Professora Maria das Graças Andrade Vasconcelos e CMEI Hermann Gmeiner em Manaus.

Senti mais uma vez nosso trabalho valorizado. Caiu mais um pouco a ficha do quanto é importante este trabalho que temos realizado.

Vivência cultural proposta pelas crianças da escola
PS: A Escola Democrática de Huamachuco tem 10 anos. Tem este vídeo da websérie 'O que eles tem para nos dizer?' que retrata bem o que é a escola: https://www.youtube.com/watch?v=zOcmU9kv0ms

Por Ana Gouvêa Bocchini, Coordenadora Geral e mãe do CEFA

quinta-feira, 18 de maio de 2017

PANCs no Aldeias Infantis SOS

Quarta feira, dia 05 de abril de 2017, foi um dia diferente no Aldeias Infantis SOS e nas escolas municipais CMEI Herman Gmeiner, CMEI Graciliano Ramos e EMEF Profa. Maria das Graças Andrade Vasconcelos no bairro Alvorada em Manaus. Merendeiras, algumas professoras e as diretoras das três escolas passaram o dia numa oficina sobre alimentação saudável e Plantas Alimentícias Não convencionais (PANCs) com chefs de cozinha, nutricionistas, médicos, botânicos, e organizadores do Festival Ecológico -- evento de Alimentação Saudável que aconteceu no IFAM Zona Leste no final de semana passado (https://comidaecologica.com.br). O evento também contou com a participação de integrantes da EMEF Waldir Garcia e da chefe da Divisão Alimentar da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), Ingrid Samias Chanchare.
Professor Kinnup instruindo os participantes do evento sobre as PANCs
A convite do CEFA, a equipe de chefs, nutricionistas e médicos do chef Daniel Francisco de Assis, organizador do evento e especialista em "Alimentação Viva", esteve no Aldeias junto com o Dr. Valdely Kinupp, professor do IFAM Zona Leste e um dos autores do livro Plantas Alimentícias Não convencionais (PANCs, Editora Plantarum, https://www.plantarum.com.br/), que reúne mais de 300 espécies de plantas alimentícias todavia pouco usadas na nossa alimentação, cada uma com três receitas culinárias.
PANCs são plantas comestíveis pouco conhecidas, aquelas que não estão no cardápio da maioria das pessoas. Pode ser aquela planta que a sua avó te fez comer algum dia, que você comeu em alguma cidade do interior, ou uma comida diferente de algum canto do país. Pode ser alguma planta que ninguém sabe que pode comer, mas tem gente que sabe, como o prof. Kinnup. PANCs são uma grande alternativa à alimentação, estimulam a agroecologia, o uso sustentável da diversidade, e a ruptura com os alimentos impostos pela grande agroindustria globalizada. PANCs podem ajudar a melhorar a merenda escolar, não apenas como alimentos mais saudáveis, mas por serem mais fáceis de cultivar e de cuidar, sendo excelentes alimentos alternativos para cultivos nas escolas, e poderem ser trabalhados através de atividades pedagógicas. Muitas PANCs são plantas perenes, outras apenas ruderais, "malezas" que nascem sozinhas.
O professor Kinupp, que mora em Manaus, é o maior especialista em PANCs do Brasil e seu livro ganhou grande repercussão nacional e internacional. O dia começou com o professor mostrando várias espécies de plantas alimentícias para as merendeiras, professoras, diretoras e outros curiosos. Muitos anotavam atentos em seus cadernos tudo que ouviam. Kinupp chegou com um isopor cheio de plantas como taióba, ora-pro-nóbis, urtiga (?!), vinagreira,... apresentou-as e comentou sobre receitas envolvendo-as. Fez todos experimentarem folhas, conferindo odores e sabores. Depois o grupo andou pelo Aldeias, aprendendo sobre plantas espontâneas, depreciativamente chamado de 'mato', que geralmente é roçado, deixado de lado, mas que no entanto contém várias plantas comestíveis:
  * a chanana, uma erva que aparece sozinha em grande abundância em todas as ruas e praças da cidade e com a qual se pode fazer chá, geléia e salada;
  * o pepininho-do-mato, um pepino silvestre pequeno, uma erva escandente que se espalhava sobre um amontoado de troncos empilhados junto ao muro do Aldeias;
  * colheram folhas de taperebá para fazer suco e ele mostrou como manter um taperebá pequeno para que dele você use apenas as folhas;
  * também viram que o fruto do Noni, quando bem maduro, possui um odor como um queijo gorgonzola, e por isso é bom para fazer pizza ou "fileminoni", prato inventado por um chef de cozinha juntamente com o prof. Kinnup;
  * Flores de hibiscus para enfeitar a salada das crianças, comestível e colorida.
Algumas pessoas já conheciam algumas PANCs. A merendeira do CMEI Herman Gmeneir, Dona Cidália, se mostrou uma grande conhecedora de várias plantas que foram apresentadas. Ela já sabia com usá-las e reconhecê-las e já fazia isso na sua casa.
Daniel e Dona Cidália
No período da tarde as merendeiras e os chefs e nutricionistas da equipe do Daniel Francisco de Assis (chef de cozinha e coordenador do Festival Ecológico) preparam juntos um risoto PANC para o jantar, trocando experiencias, receitas e conhecimento. Na cozinha, as merendeiras e os chefs separaram as PANCs coletadas, e começaram a processa-las para fazer o risoto. Dona Cidália é uma merendeira idosa, e já conhecia a maioria das plantas, porém ficou surpresa com o uso que os chefs estavam fazendo destas mesmas plantas, por exemplo, com relação ao preparo do talo da taioba ou com a proposta de utilizar o capim limão no suco de melancia. As merendeiras mais jovens estavam engajadas, felizes em aprender sobre as PANCs e as novas receitas propostas pelos chefs. Foi um momento muito agradável de conversas e risadas durante o preparo do risoto.

Por Alberto Vicentini e Maihyra Pombo.

O homem do banco branco, a amoreira e a escola Waldir Garcia: o teatro vai à escola e a escola vai ao teatro

Na semana de 31 de outubro a 04 de novembro de 2016, alunos e educadores da Escola Municipal Prof. Waldir Garcia tiveram a oportunidade de vivenciar uma experiência de teatro com a Minha Nossa Cia. de Teatro, do Paraná. Essa companhia atua desde 2009 enfatizando “o cultivo de um lugar poético de reflexão, crítica e criação artística” . A escola Waldir Garcia, que já vem desenvolvendo rotineiramente atividades de artes cênicas junto aos estudantes por meio da Oficina de Teatro, que integra o conjunto de práticas pedagógicas da escola voltadas ao desenvolvimento integral das crianças, mergulhou no teatro literalmente.

Durante a semana as crianças puderam entrar em contato com a companhia de teatro e seus artistas na rotina da escola e no dia 04 de novembro a escola pode ir ao teatro Les Artiste Café apreciar o espetáculo O Homem do Banco Branco e a Amoreira, peça infantil que conta de maneira poética a história de um amor perdido no tempo. O símbolo de que as lembranças do amor perduram é o pé de amora, testemunha de encontro e descoberta desse sentimento que dá sentido à vida. A peça é permeada por silêncios e reminiscências, tensão, medo e muita ternura, o que torna o enredo bastante familiar e, ao mesmo tempo, inesperado. O desejo de reencontrar o amor perdido é a esperança de reencontrar a si mesmo e isto se funde ao medo de que tudo pare nas rugas do tempo.

O Homem do Banco Branco e a Amoreira é o primeiro espetáculo da Minha Nossa Cia. de Teatro, tendo participado de mostras e festivais em diversos estados do sul e sudeste do Brasil, quando no ano de 2015 o seu projeto de circulação foi contemplado pelo edital da Petrobrás e Lei Rouanet para apresentações em cidades no norte e nordeste, incluído também a realização de oficina junto às escolas da rede pública de ensino.


O currículo, como lembra Antônio Flávio Barbosa Moreira , é o espaço em que se desenrolam as experiências de aprendizagem que giram em torno do conhecimento escolar. É também aquilo que é criado nas vivências cotidianas. Valorizar a arte e integrá-la ao cotidiano da criança é, pois, uma escolha clara pela valorização do seu senso crítico e estético e pelo aguçamento de sua sensibilidade. Nesse caso, a arte atua também como ferramenta para o pensamento e para a atribuição de sentidos para a vida.

A vivência foi proporcionada num sentido de imersão, onde as crianças puderam perceber uma peça de teatro em sua totalidade (o cenário, a iluminação, a coreografia, o som, a atuação etc.) e ampliar a sua percepção sobre essa arte. Isso reafirma a relevância de uma educação que respeite, estimule, e acompanhe o estudante em suas interações com diferentes formas de linguagem e de expressão artística. A conversa com os artistas após a encenação e a participação de intérprete de Libras e a realização áudio-descrição no desenrolar da história deram um caráter verdadeiramente inclusivo à proposta. Certamente serão momentos inesquecíveis para as crianças. Vida longa à amoreira e aos amores!

P.S.: As fotos são da professora Noranei
Por Ceane Simões, mãe e professora.